"Ás catro da mañá, nunca se sabe se é demasiado tarde, ou demasiado cedo". Woody Allen







lunes, 21 de septiembre de 2009

45 anos leva o violinista no tellado...



Por Claudio Erlichman
.
Enquanto estou escrevendo este artigo, fico sabendo pela agência MTI, que negocia os seus direitos, que Fiddler on the Roof tem apresentações agendadas até abril de 2011. Ou seja, nos próximos dois anos, a cada fim de semana, será possível assistir a uma apresentação deste show em algum lugar do mundo – da Bratislava à Seul, de Liubliana à Xangai, ou até mesmo numa High School em Chatanooga ou na Ópera Lírica de San Diego. Nada mal para um dos musicais clássicos da Broadway que desafiou as regras aceitas do sucesso comercial ao tratar de temas como perseguição, pobreza, antissemitismo e problemas da manutenção das tradições em meio a um ambiente hostil.
.
Mas apesar do anticlímax da história e do cenário aparentar sem apelo, o musical bateu de frente com um tema tão universal, que fez o violinista continuar tocando em cima do seu telhado por sete anos e nove meses, se tornando, com suas 3.242 apresentações, a produção – seja ela musical ou não – de maior permanência em cartaz na história da Broadway (este recorde só viria a ser batido em dezembro de 1979, por Grease). Para se ter uma idéia a cada dólar investido houve um retorno de U$1.574 para os seus produtores. Fiddler que estreou há exatos 45 anos, em 22 de setembro, de 1964, faria desta data histórica, já que é o momento em que se considera encerrada a era clássica do teatro musical americano, a chamada A Era de Ouro, que havia se iniciado 20 anos antes, em 1944, com Oklahoma!.
.
Considerado um dos maiores triunfos de Jerome Robbins, que o dirigiu e o coreografou, Fiddler teve as letras de Sheldon Harnick, música de Jerry Bock e libreto de Joseph Stein, baseado num conto do escritor iídiche Sholem Aleichem chamado ‘Tevye e suas Filhas’. Outros contos dele como ‘Tevye, o Leiteiro’, ‘Motel, o Alfaiate’ e ‘Ah! Se Eu Fosse um Rothschild’ também serviram de inspiração. A ação tem lugar na aldeia judaica de Anatevka, Rússia, em 1905, às vésperas da Revolução Bolchevique, e trata basicamente dos esforços de Tevye (Zero Mostel), um leiteiro, sua esposa Golda (Maria Karnilova) e suas cinco filhas em lidar com a sua dura existência. Tzeitel (Joanna Merlin), a filha mais velha, casa com Motel, um pobre alfaiate (Austin Pendleton), mesmo Tevye tendo prometido a sua mão a Lazer Wolf, um açougueiro velho e bem sucedido (Michael Granger).
.
Hodel, a segunda filha, casa-se com Perchik (Bert Convy), um revolucionário, e parte com ele para a Sibéria. Chava (Tania Everett), a terceira filha, casa-se com Fiedka, um rapaz de fora da religião. Quando, no final, Anatevka é destruída num Pogrom, pelos cossacos do Czar, Tevye ainda se mantém firme a sua fé e tradições e se prepara valentemente para levar o que restou de sua família para a América. A recém falecida ‘super-gata’ Bea Arthur protagonizou o papel da casamenteira. Durante esta temporada Pia Zadora pode ser vista como Bilke, a filha caçula, e Bette Midler assumindo o papel de Tzeitel. Embora Zero Mostel tenha se tornado estreitamente identificado com o papel de Tevye e imortalizado a canção ‘If I Were a Rich Man’, com uma atuação que lhe rendeu todos os prêmios, o musical não encontrou dificuldades em continuar com seus sucessores Herschel Bernardi, Theodore Bikel e Leonard Nimoy dentre outros.
.
Fiddler ganharia 10 indicações ao Tony, vencendo nove: Melhor Musical, Compositor e Letrista, Libretista, Ator (Mostel), Atriz coadjuvante (Maria Karlinova), Produtor, Diretor, Coreógrafo e Figurinos. Perderia justamente a de Melhor Cenografia, de Boris Aronson, toda inspirada na obra de Mark Chagall, justamente o criador da figura do violinista no telhado, em seus quadros. O violinista é uma metáfora da sobrevivência, através da tradição, numa vida incerta e desigual. Em 1972 Fiddler ganharia um Tony especial por se tornar a peça de mais longa duração na história da Broadway. Em 1990 ganhou um Tony de Melhor Remontagem e em 2004 mais seis indicações. Esta última foi estrelada por Alfred Molina (Tradition’), que depois traria um improvável Harvey Fierstein como Tevye (If I Were a Rich Man’) e Rosie O’Donnell como Golde, nas substituições. Nesta montagem foi incluída a canção ‘Topsy Turvy’, cantada por Yente e algumas mulheres do vilarejo, discutindo o desaparecimento do papel da casamenteira na sociedade. É ainda o musical mais popular em montagens escolares e comunitárias, nos EUA.
Entretanto foi a montagem londrina, de 1967, que consagraria o Tevye ‘definitivo’, o ator israelense Topol. Ele depois estrearia a versão cinematográfica, de 1971, e várias remontagens, não só nos Estados Unidos e no Reino Unido, más na Austrália, Nova Zelândia e Israel ficando definitivamente associado ao papel. Da versão cinematográfica também faria parte a grande estrela do teatro e do cinema iídiche Molly Picon, como Yente, a casamenteira, debutando no cinema norte-americano. O filme dirigido por Norman Jewison (que apesar do sobrenome não é judeu – e foi diretor de No Calor da Noite, Crown, o Magnífico, Jesus Cristo Superstar e Feitiço da Lua) recebeu no Brasil o título de Um Violinista no Telhado e oito indicações ao Oscar, ganhando Melhor Som, Fotografia e dando a John Williams sua primeira estatueta dourada (por Melhor Partitura Adaptada). Está disponível em DVD (FOX Home Entertainment) em versões simples e dupla. Uma adaptação para a TV, que estava sendo desenvolvida pela ABC, iria estrelar Victor Graber. Contudo, nos últimos anos não mais se ouviu falar neste projeto.
.
Muitos críticos reclamam da falta de originalidade das remontagens, sempre querendo recriar as coreografias de Robbins e os cenários inspirados em Chagall. Mas o que seria do musical sem a Dança das Garrafas’ e da cena da taberna com o To Life’? Em 2003 uma produção inglesa, revivida em 2008, apresentou uma montagem minimalista, com cenários e figurinos monocromáticos. Fruma-Sarah, a falecida esposa do açougueiro Lazer Wolf, que aparece de forma fantasmagórica na cena do sonho, aqui foi representada por uma marionete de quase 4 metros de altura. De janeiro a agosto de 2009 um tour do Violinista foi levado por todos os Estados Unidos sob o nome de: “Topol in ‘Fidler on the Roof’: The Farewell Tour”. A máxima de Leon Tolstoi “Fale de sua aldeia e estará falando do mundo”, nunca foi tão apropriada e Fiddler on the Roof recebeu montagens muito bem sucedidas no mundo inteiro. Aqui temos trechos promocionais das montagens portuguesa (Matchmaker’), japonesa (Tradition’), holandesa (If I Were a Rich Man’) e alemã (aqui na interpretação do grande ator israelense Shmuel Rodensky – If I Were a Rich Man’).
.
A primeira montagem de Violinista no Telhado no Brasil teve vez em 1971, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Estrelando Ida Gomes (Golda) e Oswaldo Loureiro (Tevie), teve direção de Wilfredo Ferrán e ainda contava no elenco com Suzy Arruda, Maria Helena Dias, Miriam Müller, Francisca Fraccaroli, Fernando Reski, Marco Mirelli, Irismar Bustamanti, Francisco Dantas e Cléo Ventura. Um segundo elenco, em 1972, traria Etty Fraser, Salomé Parisio e Riva Nimitz. Riva também iria estrelar a remontagem semi-profissional, que estreou em julho de 1992, no papel de Yente, a casamenteira. Esta foi uma montagem realizada por instituições da comunidade judaica paulistana, da qual eu participei como ator amador. Na verdade, foi mais um grande happening que reuniu famílias inteiras da colônia, juntamente com atores amadores e profissionais, num total de mais de 200 pessoas num mesmo palco.
.
Sob direção de Yacov Hilel e direção musical do maestro Carlos Slivskin, era para ter a princípio 8 apresentações beneficentes no Teatro de Cultura Artística, em São Paulo. Devido ao enorme sucesso teve a temporada prorrogada até o final daquele mês. Mais tarde se apresentaria durante o mês de julho no Teatro Municipal de Santo André, em setembro no Teatro Arthur Rubinstein, do Clube A’Hebraica, e finalmente reabriu o Teatro Procópio Ferreira, que se encontrava ha muito tempo fechado, onde ficaria até dezembro daquele ano, num total de 64 apresentações. Do elenco fizeram parte Sylvio Zilber (Tevie), Sonia Guedes (Golda) e Tuna Duek (Tzeitel). Duas conhecidas cantoras da comunidade israelita, Liane Mandelbaum e Debora Sznajder, protagonizaram as filhas Hodel e Hava. Sonia Goussinsky, hoje uma cantora lírica de carreira internacional, fez Shprintze, a quarta filha. A peça também revelou os talentos de Caco Ciocler (Perchik) e Dan Stulbach (Fiedka), hoje atores profissionais. O papel do cantor russo, na cena da taberna ‘To Life’ era dividido por dois grandes cantores litúrgicos (chazan), os tenores Abram ‘Avi’ Bursztein e Sergio Weintraub.
.

A Conteúdo Teatral, da qual eu faço parte, comprou os direitos para uma nova produção brasileira, com estréia marcada para janeiro, de 2011. É possível encontrar gravações de Fiddler on the Roof por praticamente todos os países onde foi encenada. Só em espanhol foi gravado pelos elencos mexicano, argentino e peruano. Também podemos ouvi-lo em francês, hebraico, húngaro, iídiche, holandês, japonês, tcheco, grego e alemão (Viena e Hamburgo). Em inglês temos diversas gravações dos elencos americanos, britânicos, sul-africano e australiano, além das gravações de estúdio, paródias, karaokê e a trilha sonora. A minha favorita e também considerada um tesouro do catálogo da RCA, é a do Elenco Original da Broadway, de 1964. Aqui temos imortalizado o talento de Zero Mostel. Dizem que “Z” só não protagonizou o filme devido, em parte, porque era uma pessoa grossa e de personalidade rude e excêntrica. Que bom, então, que ele ainda estava bem comportamento para esta gravação, feita assim que o show estreou. Seu Tevye é uma força da natureza, numa atuação poucas vezes igualada.
.
O resto do elenco também é maravilhoso: Maria Karnilova é ao mesmo tempo afiada, engraçada e terna; Julia Migenes nos dá uma interpretação de ‘Far From The Home I Love’ de partir o coração; Austin Pendleton canta ‘Miracle of Miracles’ com muito sentimento; e Betty Convy exibe sua bela voz em ‘Now I Have Everything’. O elenco todo entoa a contundente e refletiva ‘Sunrise, Sunset’ com muita sinceridade. A qualidade do som remasterizada para o CD é ótima e a ‘Broadway Deluxe Collector’s Edition’ nos traz em 14 faixas bônus o letrista Sheldon Harnick cantando duas músicas cortadas do show, outras que se tornaram grande sucesso além de compartilhar casos da produção original. A Trilha Sonora, de 1971 (United Artists/EMI) não rende tanto, embora seja conduzida por John Williams que também fez seus arranjos (premiados pelo Oscar, como já dissemos) e o violinista Isaac Stern solando de forma virtuosa, sobretudo na ‘Overture’ e na ‘Sequência de Balé de Chava’. Topol nos dá um Tevye com muita personalidade, mas seu sotaque um tanto quanto esquisito chega a ser desconcertante nas partes faladas além de lento. O ponto alto é inquestionavelmente a interpretação que Leonard Frey dá para ‘Miracle of Miracles’ – uma faixa de absoluto prazer.
.
Violinista no Telhado é um show excepcional, mas que afinal é composto pelos elementos familiares do teatro musical: canções com enorme apelo popular, danças vivas que têm grande movimentação e parecem arrastar a platéia para dançar pelos corredores do teatro, drama e comédia que se combinam e transcendem o palco. Além disso tudo, Tevye é considerado uma das criações mais apaixonantes do teatro musical. Rico em detalhes históricos e étnicos, o musical, após 45 anos, continua tocando as platéias pelo mundo com seu humor, entusiasmo, calor, e honestidade, levando o público a derramar lágrimas de riso, prazer e tristeza. Aproveitando seu tema universal que vai além das barreiras de raça, classe, nacionalidade ou religião, mas fala tão fundo à alma do povo judeu, quero aproveitar para desejar a todos os internautas leitores do Pletz os meus mais sinceros votos de Shaná Tová e um Feliz 5770.
Que todos nós tenhamos um Ano Doce com muita Fortuna,
Saúde e Paz…
Afinal ‘Tradiçããããããão… tradiçããããããão’…

No hay comentarios: