"Ás catro da mañá, nunca se sabe se é demasiado tarde, ou demasiado cedo". Woody Allen







jueves, 16 de febrero de 2017

Mario Soares en Moscova (1987)


En novembro de 1987, Mario Soares, daquela presidente da República Portuguesa, foi a Moscova en visita oficial, atopándose con Mihail Gorbachov, secretario xeral do PCUS (Partido Comunista da Unión Soviética). De seguido fican algúns fragmentos dun documento que pode ser integramente consultado no arquivo da Fundación Gorbachov, en Moscova.

Fundo 1. 49
Notas da conversa de M. S. Gorbachov com M. Soares, Presidente da República Portuguesa

24 de Novembro de 1987

Mikhail Gorbachov (M.S.G.) Sinto-me feliz em saudá-lo, senhor Presidente.

Mário Soares (M. S.) Estou muito contente pelo encontro com o Senhor. Para mim, tem um significado extremamente importante.

M.S.G. Infelizmente, eu só pude estar uma vez em Portugal: no congresso do PCP no Porto, onde fui um representante tão consciente que só uma vez consegui sair da sala de sessões.
(Gorbachov aborda o tema do Vinho do Porto)

M. S. Os franceses compram mais. A propósito, o vinho das ilhas dos Açores – Portugal – era fornecido para a Rússia em tempos antigos para a mesa imperial.

M.S.G. Senhor Presidente, tive algumas dúvidas como tratar o Senhor, visto que com o seu antigo colega da Internacional Socialista, W. Brandt, nós tratava-nos por “camarada”. Mas visto que o Senhor, antes da eleição para esse cargo, abandonou o Partido Socialista, irei dirigir-me a si como Presidente.

M. S. Correcto. Saí do PS, mas continuo a ser socialista.

M.S.G. Relações bilaterais. Respeitamos o povo português, mas um período de queda…

M. S. Além das nossas causas puramente internas, o resfriamento nas relações soviético-portuguesas, considero, foi originado também pela tendência para dar prioridade ao desenvolvimento das relações entre o PCUS e o PCP em relação às relações entre estados…
… Por isso, considero que, agora, formaram-se as condições necessárias para o aprofundamento das nossas relações. A minha visita à União Soviética é a manifestação do desejo de Portugal passar para uma etapa nova, mais alta nas relações com a União Soviética.

(Soares explica a adesão à CEE)

M. S. Em Outubro, esteve em Portugal em visita oficial o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. E nós com ele falámos de uma situação paradoxal. Angola é um país muito rico, mas Portugal, depois de ficar privado dela, bem como de outras colónias, sente-se significativamente melhor que durante o regime colonial.

M.S.G. Mas os países em desenvolvimento também colocam a questão: Por que é que é assim? Temos recursos naturais, laborais e outros, temos liberdade política. Mas não temos resultados na esfera económica.
Penso que a causa se encontra no carácter dos laços do “terceiro mundo” com os países ocidentais, na desequilíbrio das trocas, que se forma e aprofunda à custa desses laços. Este tema é realmente fulcral, objecto para discussões e conversas. Eu falei sobre isso com muitos políticos ocidentais: com Miterrand, Tarcher, Kraksi, Reagan, e com muitos outros. Eu tentei mostrar claramente que, hoje, o desenvolvimento dos países industrialmente desenvolvidos do Ocidente é pago, em medida significativa pelos países em desenvolvimento. Nestes países agudizam-se os problemas económicos, aumenta o contraste entre as enormes possibilidades potenciais e o nível de vida extremamente baixo da população. O Ocidente não que por enquanto compreender a profundeza do conflito em amadurecimento, safando-se com paliativos, com tentativas de liquidar a agudeza dos problemas, mas não os resolver.
Pode-se dar o nome que se quiser a essa problemática: diálogo Norte-Sul ou ordem económica internacional. Isso não faz com que as coisas mudem significativamente. Mas se se continuar a conservar os restos do sistema colonial, se a crise for empurrada para o interior, terá lugar a explosão. Por isso, este problema é mais político do que económico…

M. S. Estou de acordo com muitos raciocínios seus. Em muitos países em desenvolvimento, como no Brasil, Argentina, México, criou-se uma situação catastrófica com a dívida externa. Eu também falei sobre isso com os americanos, nomeadamente com Reagan e Schultz.
Portugal, nestas questões, está solidário com o Brasil, que constitui um exemplo escandaloso de como, tendo todas as possibilidades para um desenvolvimento rápido, o país se vê sufocado por dívidas. Tenho o direito de falar assim também porque eu enfrentei pessoalmente problemática semelhante quando ocupava o cargo de primeiro-ministro. Eu realizei duas vezes conversações com o FMI sobre as condições de prestação de ajuda económica a Portugal. Fomos obrigados, depois, a realizar uma política de economia rígida.
Conseguimos resolver alguns problemas económicos, mas à custa do aumento considerável de tensão social, o que levou a que tenha sofrido duas vezes derrota nas eleições. Por isso tenho razões para dizer: é preciso avançar para uma nova ordem económica mundial nas relações com os países em vias de desenvolvimento. Agora, a meu ver, são dados alguns passos nesse sentido, embora, por enquanto, de forma vagarosa.

M.S.G. É insuficiente que isso seja feito separadamente, em grupos fechados.

M. S. Estou de acordo que, por enquanto, isso é feito num âmbito limitado. Fico com a impressão de que até o FMI compreende hoje que é preciso fazer alguma coisa.
Gostaria de abordar ainda dois aspectos deste problema. Primeiro, enquanto continuar a corrida aos armamentos entre o Oriente e o Ocidente, será impossível encontrar meios para resolver os problemas dos países em desenvolvimento.

M.S.G. Saúdo isso. É minha profunda convicção.

(Solução dos problemas económicos e sociais em Portugal e na URSS)
Gorbachov fala longamente da perestroika…

M. S. … O Senhor recordou os 2,5 mil milhões de pessoas que vivem nos países em desenvolvimento, lutam contra a fome, as doenças e outras privações. Portugal sente esses problemas talvez mais do que qualquer outro. Conhecemos a situação em África e estamos extremamente preocupados com o facto de o processo de descolonização não se ter tornado base para o progresso dos países africanos. E sentimos sinceramente os sofrimentos que enfrentam as pessoas nesses países. Conhecemos e compreendemos bem os angolanos, ligados a nós por laços seculares. Até o chefe do meu gabinete – N. Barata – é angolano de origem. Por isso, consideramos que é preciso dar alguns passos para ajudar os países africanos na luta contra as epidemias, fome e miséria. Mesmo se, por enquanto, não há possibilidade de uma regularização global no Sul de África, é preciso dar alguns passos práticos. A URSS é uma potência com interesses e responsabilidade globais. Vocês também têm interesses em África. Penso que, nessa base, poderíamos analisar mais pormenorizadamente as questões que interessam a ambas as partes.

M.S.G. Somos solidários com o povo de Angola na sua luta e na opção que ele próprio fez. A luta dos angolanos em defesa dessa opção é-nos próxima e compreensível talvez também porque, no início de 1918, a jovem república soviética se tornou objecto da intervenção de 14 estados. Depois, desabou sobre nós a máquina militar fascista, na luta contra a qual perdemos 20 milhões de vidas. Por isso os ideais da luta pela liberdade e a independência são-nos mais próximos do que a ninguém.
O principal é que a opção seja feita pelo próprio povo e é assunto dele que opção fizer. No Zimbabwe há um regime, em Angola outro, em Moçambique um terceiro. Mas nós estamos solidários com a luta de todos esses povos e iremos ajudá-los. Aqui as nossas posições divergem das do Ocidente, dos EUA, que tentam economicamente e por outros meios sufocar esses regimes de quem não gostam.

M. S. Não estou de acordo com isso. Se a companhia americana “Gulf – oil” não extraísse petróleo em Angola e não o exportasse para os EUA, Angola nada teria para pagar até a presença de 38 mil cubanos.

M.S.G. Mas os americanos colocam assim a questão: retirem os cubanos, reconheçam a UNITA, porque, caso contrário, nada teremos para conversar. Isto não será pressão?

M. S. Eu não falo da posição americana. Nós e os EUA também temos divergências a esse propósito. No que respeita a Portugal, nós realizamos em África “jogo limpo”. No período do fascismo, eu próprio estive na prisão com o futuro presidente de Angola: A. Neto, e manifestei-me sempre contra a guerra colonial.
Depois da revolução de 1974, nós fizemos o que devíamos fazer: realizámos a descolonização. Com o nosso apoio foram concluídos os acordos de Alvor entre os três movimentos de libertação nacional de Angola. Hoje, mantemos relações normais com o governo de Luanda, demonstrando assim o nosso desejo de olhar lucidamente para o real estado das coisas.

M.S.G. Os angolanos escolheram a sua via. Eu nem sequer posso dizer que regime lá vigora. Do ponto de vista económico e social, pouco aí mudou. Nós apoiamo-los do ponto de vista político, moral, e economicamente dentro das possibilidades.
Mas os EUA não gostam dessa opção. Mais, em tudo o que não gostam continuam a ver a “mão de Moscovo”. Eu disse ao presidente Reagan, durante o nosso primeiro encontro em Genebra: vós transformastes a América Latina numa periferia dos EUA, explorastes durante décadas os povos dos países latino-americanos. Mas, agora, quando eles não querem suportar mais isso, vós considerais a sua luta “ameaça aos interesses dos EUA” e “mão de Moscovo”. Isso é demagogia!…

M. S. Penso que existem muitos pontos comuns nas nossas abordagens, nomeadamente para com os problemas de África…

lunes, 6 de febrero de 2017

El nombre de todos


Un museo para recorrer la historia minúscula e imborrable del Holocausto.

Por Luisgé Martín
El País semanal 
05/02/2017

En el Museo Yad Vashem de Jerusalén se expone la fotografía de la boda de Zismu y Necha Reich, celebrada en la ciudad polaca de Trzebinia en 1937. Es un retrato de grupo en el que aparecen los novios y todos los invitados. Los padres de la novia, sentados al lado de ella, eran carniceros, y los del novio, sentados a continuación, eran comerciantes de ganado, de modo que debía de tratarse de una familia modesta. Hay un total de 64 personas, entre las que se cuentan al menos 13 niños. Cincuenta y cuatro de ellas fueron asesinadas en el Holocausto, en la Shoah. Esa es la dimensión del horror.

La historia se escribe siempre con minúsculas. Detrás de las guerras, las crisis económicas, las revoluciones o las ideologías hay seres humanos minúsculos, vidas invisibles que en ningún libro merecerían ni una sola línea. Los museos dedicados al Holocausto judío son muy conscientes de esa circunstancia. En el de Washington, a cada visitante se le entrega la tarjeta de identificación de una víctima con su historia y su peripecia. En una de las barracas de Auschwitz se exponen algunas de las fotografías que se tomaban a los prisioneros para ficharles al llegar al campo. Y el Yad Vashem pone en el centro de su filosofía museística a esos hombres y mujeres que tenían vidas reales y que fueron protagonistas de la historia muy a su pesar. 


El espinazo del museo, levantado en un edificio brutal y hermoso que parece colgar de la brecha de una montaña, está formado por la carne y el hueso de esos seres corrientes que se toparon por accidente con el huracán del nazismo. Cada una de las estampas históricas -la furia de los cristales rotos, los guetos, los avances militares, los campos de exterminio- tiene caligrafía humana: objetos vulgares que pertenecieron a alguien, fotografías dedicadas, muebles que fueron abandonados o libros que nunca se terminaron de leer. Nombres, apellidos, identidades. El nombre del museo proviene de unas palabras bíblicas del profeta Isaías: Yad Vashem significa "nombre eterno". "Yo he de darles en mi casa y dentro de mis muros (...) un nombre eterno que nunca será olvidado". Por ello no es solo simbólico que al final del recorrido serpenteante por el museo esté la Sala de los Nombres, en cuyo espacio circular se guardan las llamadas Hojas de Testimonio, que son breves biografías de cada una de las víctimas del Holocausto documentadas. Hay más de dos millones de hojas, entre ellas las que cuentan la vida de los 54 asesinados de la boda de Zismu y Necha Reich.

Aunque suele afirmarse que la bondad no tiene atractivo literario, en el Yad Vashem están también los nombres de los bondadosos, que allí son llamados los Justos entre las Naciones: aquellos que en cual- , quier parte del mundo arriesgaron su reputación, su dinero y su vida para salvar a algunos judíos de la cacería. Oskar Schindler fue conocido por las artes cinematográficas de Spielberg, pero hay cientos de justos en toda la geografía del conflicto, como el español Ángel Sanz Briz, diplomático en la legación de Budapest que arropó bajo su tutela jurídica a más de 5.000 judíos de diversas nacionalidades que pudieron huir. El Bosque de los Justos nos recuerda que en los dilemas más monstruosos siempre es posible elegir lo correcto: muchos seres humanos lo hicieron.

En 2017 se cumple el décimo aniversario de la concesión a este museo del Premio Príncipe de Asturias de la Concordia. Perla B. Hazan, directora del departamento para Latinoamérica, España, Portugal y Miami, cree que es un buen momento para hacer balance de lo que el museo ha supuesto. Como dijo Elie Wiesel, premio Nobel de la Paz, "hay muchos museos sobre el Holocausto en el mundo, pero la fuente está aquí. Este es el corazón y el alma de la memoria judía. Recordando el pasado forjaremos un mundo más humano".


domingo, 5 de febrero de 2017

As boas xentes



Pedro Gómez-Valadés
Pyublicado en: Atlántico diario / Diario de Pontevedra / La Región de Ourense / El Progreso de Lugo / GaliciaConfidencial - 
27.01.2017

Sempre imaxinei ás boas xentes, ás boas persoas, coma unha sorte de chinchetas que desde a súa humildade e pequenez, impiden que o mundo caia da parede. Tarefa nada doada nun mundo no que abondan os exemplos de maldade e inmensa crueldade con consecuencias terribles para con nós mesmos, os seres humanos.

Hai un coñecido refrán xudeu que di que quen salva unha vida salva un mundo enteiro. Certamente non hai xesto máis xeneroso que salvar unha vida allea arriscando a propia. Persoas que coa súa coraxe evitan que vidas feitas de tempo, amor, desamor, dúbidas, certezas… poideran ser apagadas arbitrariamente pola maldade.

E un ano máis chega o 27 de xaneiro. Data que desde 2005 e por mandato de Nacións Unidas, xunto a reivindicación da memoria das vítimas do Holocausto reivindica tamén a todas aquelas, non moitas persoas, que nos negros anos negros da barbarie xenocida e antisemita desatada polo nazismo contribuíron a preservar a dignidade da condición humana.
Teñen en Israel, no imponente Yad Vashem, o centro que desde Xerusalén estuda e preserva con mimo a memoria das vítimas da “Shoah”, do Holocausto, un xardín poboado de árbores dedicadas ás persoas que os xudeus nomean como “Xustos entre as Nacións”. Esas boas xentes que arriscaron - ou perderon - as súas vidas na nobre misión de salvar a dos outros. Esquecelos, non recoñecelos coma merecen, ademais de inxusto, empobreceríanos como persoas. 

Pois ben, Galicia tamén ten fermosos exemplos de estrema dignidade nos escuros tempos da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto xudeu. As irmáns Lola, Amparo e Julia Touza, que desde a súa Ribadavia e sen máis afán que salvar a cantos máis seres humanos perseguidos fora posible, fixeron que centos e centos de exhaustos xudeus puideran pasar a Portugal e salvar así as súas vidas das gadoupas da barbarie. Ou o incomprensiblemente esquecido pola súa propia cidade natal, o doutor vigués Eduardo Martínez Alonso, quen organizou a rede que permitiu fuxir desde Francia a Portugal, a través da España franquista a incontables xudeus fuxitivos dunha morte certa.

Lembrar hoxe a Lola, Amparo, Julia e Eduardo Martínez Alonso é obriga moral de todos e todas nós. Hoxe, 27 de xaneiro, e todos os demais días do ano. Por eles. Por nós. Para evitar que o mundo caia da parede

sábado, 4 de febrero de 2017

Unha historia de amor e escuridade

Contaba o mestre John Ford que para realizar unha boa película son precisos tres ingredientes fundamentais... a saber: un bo guión, un bo guión e máis un bo guión.

Natalie Portman escolleu para realizar o que é o seu debut na dirección unha materia prima insuperable pero arriscada. A obra de Amos Oz: “Unha historia de amor e escuridade” (que recomendo a quen non a lera) ofreceulle unha magnífica base e debo recoñecer que Neta-Lee Hershlag foi quen de adaptala cun bo guión e aprobar con notable este o seu primeiro salto tras a cámara.

Gustoume e moito a película, e co voso permiso desde este púlpito a recomendo (se a dades atopades claro está... porque incomprensiblemente a España non da chegado nin en formato dvd). En todo caso e para ir abrindo boca déixovos o seu tráiler subtitulado en portugués xa que en Portugal si foi estreada no mes de maio do ano pasado.

En fin... marabillosa (sempre) Natalie Portman e marabilloso (sempre) Amos Oz
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